Olá, moçada!
Faltam poucos dias, para que a Stock Car complete a sua trigésima temporada consecutiva. No próximo domingo, dia 7 de dezembro, em Interlagos, acontecerá à última etapa da Copa Nextel. O título só será decidido na prova derradeira, o que confirma a competitividade da categoria. Apenas 1 ponto entre Ricardo Maurício e Marcos Gomes. Acredito que foi a temporada mais apertada desde a criação da EUROFARMA Super Final.
Por outro lado, a prova de Interlagos também será palco da última corrida de Ingo Hoffmann, o maior piloto de todos os tempos da Stock Car. Estava presente na sua primeira corrida em Interlagos, no “Festival do Ronco” de 1972, há exatamente 36 anos atrás, e agora vou ter o privilégio de também estar assistindo a última prova da sua longa e brilhante carreira na Stock Car.
Já contei para vocês (ver minha primeira matéria aqui do site, “O inigualável Alemão”) como começou a nossa longa amizade.
Mas, hoje quero falar de duas corridas que o Ingo venceu, das mais de trezentas que disputou apenas na Stock Car, que sem dúvida nunca mais vou me esquecer e com certeza ele também. A primeira foi uma prova realizada no autódromo de Curitiba, em 1996. Embora tivesse no sábado conseguido a pole position, teve seu carro desclassificado na pesagem, por apenas 600 gramas, isso mesmo, pouco mais de meio quilo, num Omega Stock Car de aproximadamente 1.200 quilos! A punição foi perder a pole, e, ainda ter que largar na última fila.
O domingo amanheceu com muita chuva e com uma neblina encontrada apenas em Londres. Não dava para enxergar nada e a pista estava verdadeiramente encharcada. Para quem tinha feito a pole no seco, largar em último com a pista neste estado, realmente era uma punição muito pesada. Largar na frente sempre facilita o trabalho do piloto, principalmente quando a pista está molhada. Apenas o ponteiro enxerga, o resto dos pilotos guia muito mais com instinto do que com a razão.
Mesmo nessas condições a largada foi dada e ninguém via nada. Só o Ingo que via tudo, porque foi passando um a um, como se para ele não tivesse nem chuva nem neblina. Muitos carros entraram nos boxes para limpar os vidros embaçados, mas o Ingo continuava na sua incrível batalha. Acho que na última volta, no fim da reta dos boxes, ultrapassou o ponteiro que era o Xandy Negrão e cruzou a linha de chegada na primeira posição. Ganhou mais de 30 posições durante a corrida! Nem ele próprio sabia, nem ninguém acreditava que tivesse ganho a corrida.
Apenas a cronometragem oficial, pode confirmar o resultado. Depois da vitória contou que pilotava olhando para referências laterais na pista, isto é, não ficava olhando apenas para frente, por causa da barreira da neblina. Quando estava bem próximo de um adversário, conseguia ver a luz de freio e então fazia a ultrapassagem. Guiou assim a corrida inteira.
A outra prova inesquecível, aconteceu no autódromo Oscar Galvez, em Buenos Aires, na temporada de 2006. A previsão do tempo vinha indicando que o fim de semana estaria sujeito a chuvas esparsas, mas o problema é que a pista de Buenos Aires não tinha a drenagem perfeita e acumulava muitas poças em pontos de alta velocidade. Para se ter uma idéia, a curva 2 era contornada a velocidade de 195 km/h, e os carros chegavam à curva orquídea a aproximadamente 245 km/h.
Mas, o real problema desse circuito, além da drenagem deficiente, era a grande quantidade de terra que descia para a pista, formando um verdadeiro rio de “lama” sobre o asfalto. Pois bem, o incansável Ingo largou na oitava posição e aos poucos, com muita segurança, esbanjando talento e coragem, foi ultrapassando os concorrentes um a um, como se para ele a pista estivesse seca e limpa. Fez a maioria das ultrapassagens por “fora” do traçado, usando a parte mais suja da pista, até conseguir a primeira posição.
Quando parou nos boxes, o seu pára-brisa era só lama, porque além de tudo tinha acabado a água do reservatório do esguichador. Na coletiva de imprensa, contou que vinha guiando como se estivesse num rally na terra, olhando a pista sempre por “cima”. Ninguém entendeu o que ele quis dizer, mas todos nós rimos muito e aplaudimos.
Para mim essas duas corridas, resumem a maravilhosa carreira de Ingo Hoffmann na Stock. Ele é um piloto fantástico que jamais será igualado. Depois que o Pelé parou de jogar, todos ficaram procurando e esperando o seu substituto. Até hoje ele nunca foi encontrado. O caso do Ingo é o mesmo, é o Rei da Stock Car. Pelo menos ele vai continuar por perto, para a gente matar a saudade. É isso aí. Até a próxima.
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