segunda-feira, 20 de julho de 2009

(T) Pilotos ou robôs?

(texto publicado no site oficial
da stock car em 18/06/08)
Olá, moçada!

Antigamente, num tempo mais

glamouroso e romantico,
quando algum piloto de
carros de corridas tinha
qualidades excepcionais,
era chamado de “Ás do Volante”.
Todo piloto queria ser
considerado um verdadeiro “Ás”,
e, lutava muito para isso.

No baralho, o ás é a carta principal, a mais desejada e poderosa. Ganha de todas as outras. A expressão ás não era então usada para outras modalidades esportivas, como futebol, natação e etc. Apenas no automobilismo e também na aviação. Talvez porque tanto uma quanto outra, além de técnica, concentração e perícia, envolviam e envolvem grande dose de risco e de imensos imprevistos.

Diferentemente de outras praticas esportivas, no automobilismo o fator risco está em primeiro lugar, haja vista a vestimenta do piloto, parecendo um verdadeiro soldado medieval pronto para a batalha. Capacete, bala clava, Hans no pescoço, macacão anti-chamas, luvas e etc. Não há quem pense em automobilismo e não se lembre de risco. Nosso maior herói no esporte perdeu a vida na batalha das pistas.

Pode ser que esse enorme fator de risco, seja o componente mais atraente no automobilismo e também no motociclismo, diferenciando o piloto de competição do homem comum, que se afasta sempre que possível de situações perigosas e arriscadas. Não é necessário apenas guiar bem, é preciso também muita coragem para pilotar um carro de corridas.

Dentro deste quadro, para um piloto se destacar e se sobressair, numa atividade com tantas variáveis, só mesmo sendo um ás. Imaginem então, num grid da Stock Car, onde 30 carros ficam no mesmo segundo, qual é o segredo para administrar toda essa tensão e risco, e, ainda lutar para vencer os adversários? Só pode ser muito talento e muita sorte.

Por outro lado, quando os treinos foram proibidos na Stock Car, apenas com intuito de conter gastos, por incrível que pareça, a qualidade dos pilotos se elevou. Quando tais treinos livres eram permitidos, um piloto rico ou com uma grande verba de patrocínio, ficava treinando horas e horas seguidas, quase sempre sozinho ou com poucos carros na pista. Conseguia obter grandes marcas, mas na verdade não estava participando de uma corrida real, com muitos carros na pista. Se conseguisse fazer a pole e largar na ponta, toda aquela rapidez obtida nos treinos teria grande valor, mas se por um motivo qualquer não pudesse pegar a ponta, então todo o trabalho seria perdido. No calor do trânsito na pista, principalmente nas voltas iniciais, outras qualidades são exigidas, como reflexos e agilidade.

Na penúltima corrida de Fórmula Um dessa temporada, no grande premio de Mônaco, o piloto finlandês Kimi Haikkonen, atual campeão do mundo, atropelou o alemão Adrian Sutil que vinha fazendo uma corrida brilhante com um carro ultrapassado e ocupava a quarta posição. Como se não soubesse o verdadeiro tamanho de sua Ferrari, o Haikkonen calculou mal a distância e encheu a traseira do Force Índia de Sutil, que vinha fazendo a melhor corrida de sua vida.



Por uma ironia do destino, no próximo Grande Premio, no Canadá, o mesmo Haikkonen a bordo de sua linda e poderosa Ferrari, foi literalmente atropelado pela McLaren da mais nova estrela da Fórmula Um Lewis Hamilton, quando estava parado na saída dos boxes. Hamilton por um motivo ou por outro, não reparou no sinal vermelho, nem na Ferrari vermelha estacionada na saída do box, além da BMW do Kubica, não prestou atenção em nada, e encheu a traseira da Ferrari. Como uma “barbeiragem” muito comum de trânsito, entre motoristas inexperientes e mal preparados, que compraram o exame da auto-escola.



Quem anda de moto sabe que tem que ficar de olho nos espelhos para não ser atropelado, quando para num sinal. Nenhum dos dois pilotos pode voltar à corrida. É preciso dizer que o Nico Rosberg também não viu nada, nem sinal, nem três carros parados na frente, e subiu por cima de todos. Há muito tempo não se vê ultrapassagens arriscadas e manobras maravilhosas.

Quando vi o toque do Raikkonen no Sutil e depois na outra corrida a batida do Hamilton, sendo que ambos não tiveram o menor intuito ou malícia no sentido de “tirar” um adversário da corrida, sendo apenas pura barbeiragem sem controle, comecei então a pensar no valor dos treinos repetitivos e dos simuladores. Ambos dão a impressão de não reprisar situações reais de corridas, talvez até suprimam a esperteza, os reflexos e a rapidez de raciocínio, fundamentais para um verdadeiro piloto de competição. Não há duvida nenhuma, que o automobilismo perdeu o glamour nos tempos atuais, mas entre pilotos e robôs, fico com os primeiros. É isso aí. Até a próxima.

PAULO VALIENGO

paulinhoxx@yahoo.com.br