sábado, 24 de julho de 2010

(T) FÓRMULA TRUCK – DEBÓRA RODRIGUES, MUITO MAIS QUE VENCEDORA!


(A pedidos estou republicando os dois textos, contando um pouco da carreira da única piloto da história da Fórmula Truck, Débora Rodrigues.)
Os textos abaixo, que foram publicados no Jornal Super Auto, são o meu tributo as fantásticas pilotos, Débora Rodrigues, da Fórmula Truck e Bia Figueiredo, atualmente na Fórmula Indy Ligth americana.



Parte I

Ola, moçada!

Vocês sabem que gosto muito de falar de pilotos decididos e lutadores. Hoje tenho um prato cheio. Entrevistei a piloto de Formula Truck, a paranaense Débora Rodrigues que me contou os fatos mais marcantes de sua carreira. A sua vida merece um livro de aventuras. Teria o maior prazer em escrevê-lo! A paixão da Débora por caminhões é coisa antiga, vem da infância, uma vez que o pai Sr. Lázaro, a vida inteira foi caminhoneiro tanto que ela quase nasceu na boleia de um Mercedes, a caminho da maternidade.

Começou a manobrar o Corcel GT do pai, quando tinha 12 anos, e aos poucos escondido, foi dominando o volante. O pai não aprovava seu interesse por caminhões, preferia que ela fosse como as outras meninas de sua idade, e talvez por isso mesmo não a ensinou dirigir. A Débora admirava muito mais a vida do pai sempre pilotando o Mercedes, ao invés da vida da mãe, sempre pilotando o fogão. Sabia que o pai estava chegando de viagem, quando de longe ouvia o ronco do Mercedes 15.13. Tanto fez, que um dia conseguiu acompanhar o pai numa longa viagem até Cáceres no Mato Grosso, transportando 2 pesados tratores.

A certa altura da viagem, o pai parou o caminhão no acostamento e perguntou se ela sabia mesmo guiar. Mais do que depressa disse que sim, que sabia e estava pronta para dirigir. O pai então falou: “ótimo, pode descer e trocar um pneu traseiro que esta furado!” Lutou muito com a chave de rodas, machucou as canelas, mas com muito esforço conseguiu fazer a troca. Depois de muitas horas de viagem, o pai já cansado disse; “Pode levar o caminhão, mas lembre-se que todo o meu trabalho esta nas suas mãos”. Timidamente, com muito cuidado foi se acostumando e guiou por mais de 2 horas seguidas o Mercedes carregado! Aos 14 anos tinha se transformado numa verdadeira caminhoneira. Acompanhou o pai por mais 3 anos nas estradas.

Mas, como sempre foi muito independente, casou aos 17 anos e contrariando a vontade dos pais, foi embora de casa. Passou a trabalhar como motorista de ônibus particular, teve 2 filhos, mas, como o casamento não deu certo a vida ficou muito difícil. Aos 24 anos, resolveu então voltar para o campo, para a lavoura e agropecuária, as raízes dos avós. Só que havia um pequeno problema, não tinha terra para onde voltar! Achou que o melhor caminho para conseguir um pedaço de terra para recomeçar sua vida e a de seus filhos, na medida que não iria voltar para a casa dos pais, seria ingressar no MST.

Alistou-se no Movimento dos Sem Terra e militou por 4 anos consecutivos. Pilotava um caminhão do MST, transportando os utensílios dos militantes ao longo de suas marchas. Por ocasião de um sério conflito entre o MST e os fazendeiros do Portal do Paranapanema, como o líder do MST José Rainha, não sabia dirigir na cidade, foi recrutada para guiar o seu carro. Durante as manifestações, foi fotografada pelo Jornal O Estado de São Paulo e saiu na capa, como secretária do líder do Movimento. Pronto, o bochicho estava feito.

Uma semana depois, foi convidada pela Revista Playboy para ser fotografada. Relutou muito, foi criticada pelos colegas do MST, que até então, não tinham conseguido nenhum terreno para ela e os filhos. Pensou nas finanças que não andavam nada bem, e acabou concordando. Fez as fotos e foi capa da revista. Como num sonho, tudo mudou para melhor, passou a ser assediada constantemente pela mídia, foi até matéria do Times. Depois das fotos, o pessoal do MST conseguiu um terreno para ela, que agradeceu e não aceitou! De uma hora para outra saiu da estrada, da difícil vida de militante sem terra, para musa apresentadora de programas de TV.

Apresentou o programa Fantasia do Sbt, mas a paixão pelos caminhões nunca foi esquecida. Um dia foi convidada pelo apresentador e piloto Otávio Mesquita, para fazer uma matéria, na qual ela pilotaria um Formula Truck e ultrapassaria todos os demais pilotos. Foi para a Interlagos, guiou o caminhão como o combinado, mas por dentro tremeu de emoção ao pilotar um verdadeiro Truck. O seu camarim na TV era coberto de fotos de Trucks e um câmeraman amigo que sabia de sua paixão pelos caminhões, perguntou se não ela gostaria de conhecer o piloto de Formula Truck, Renato Martins, que ficou seu amigo numa filmagem que haviam feito em outra ocasião. Concordou e foram conhecer o famoso piloto. Na próxima semana teremos o capitulo final da trajetória desta surpreendente piloto Débora Rodrigues.
É isso ai. Até a próxima.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

(T) FORMULA TRUCK – DÉBORA RODRIGUES, MUITO MAIS QUE VENCEDORA!



Parte II

Olá, moçada!

Continuando a história, a Débora Rodrigues foi até a oficina de preparação dos Trucks do piloto Renato Martins, para conhecê-lo, e lá ficou duplamente encantada. Primeiro com os maravilhosos caminhões, segundo, com o Renato. Foi amor à primeira vista. Disfarçando o interesse pelo piloto, quis saber tudo a respeito dos caminhões. Sentou num deles e disse que seu maior sonho seria pilotar um Truck na pista, pra valer. O Renato que também tinha gostado muito dela, talvez duvidando um pouco da vontade e da habilidade da Débora, disse que poderiam fazer um teste num autódromo.

Foram para a pista e ela mostrou muita habilidade. O Renato ficou tão impressionado com a sua performance, que a convidou para fazer uma corrida. Ela para poder correr, teria que tirar sua licença de piloto de competição e para tanto se inscreveu e concluiu o curso de pilotagem do Manzini. Pronto, já estava com a carteira de piloto e apta a correr. Aí foi que os problemas começaram. O Aurélio Félix, promotor e organizador da Truck, desconfiado, não aceitou a sua inscrição, alegando que ela queria participar somente para se promover e que a Truck era uma categoria séria e não o ambiente ideal para uma mulher que queria “aparecer”.

O Aurélio, segundo a própria Débora, estava certo, não sabia das suas verdadeiras raízes, e não poderia acreditar que o seu interesse fosse autentico. Eu mesmo, quando soube que ela iria participar do campeonato de Truck, achei que a sua intenção era outra, nunca imaginei que ela fosse a pessoa que é. Quem em sã consciência, conhecendo as dificuldades do automobilismo de competição, poderia imaginar que uma moça apresentadora de TV, realmente pudesse guiar um caminhão de corrida a mais de 200! O que o Aurélio não sabia é que a Débora Rodrigues não é uma mulher comum, e sim uma batalhadora determinada, como poucas pessoas o são.

Cansei, nestes anos todos de automobilismo, de ouvir homens falando que sonhavam em correr, que iriam fazer a escola de pilotagem, que iriam comprar um carro de corridas, que iriam fazer e acontecer e etc e tal. Não faziam nada, a não ser sonhar e ver as corridas pela televisão. Falar é fácil, fazer é outro papo. Para uma pessoa conseguir ingressar no automobilismo de competição é muito difícil, além de ser caríssimo, precisa gostar muito e ter uma persistência incomum. Não é para qualquer um. Imagine para uma mulher! Quem é que vindo do MST, estando agora trabalhando na TV, iria ainda lutar para correr? A proibição do Aurélio não foi empecilho para a Débora, que foi até ao Judiciário para garantir sua presença no campeonato. Antes de obter a sentença, o pessoal da Truck se reuniu com os diretores da CBA, Confederação Brasileira de Automobilismo e depois de muita conversa, resolveram concordar com a sua participação.

Na 1ª prova no Autódromo de Tarumã, já estava em 7º lugar e se o caminhão não tivesse quebrado, certamente teria subido no pódio. Gostou tanto do Renato Martins, que começaram a namorar nesta época, em 1998, e estão juntos até hoje, correndo na mesma equipe e com os mesmos patrocinadores. A equipe RM Competições, cresceu muito, hoje é composta de 5 Trucks, 2 para o casal, outro para o piloto Beto Napolitano, mais um para o Herberto Heinem e um 5º para o estreante na categoria, o experiente piloto de Stock Car Adalberto Jardim. Todos correm de Volkswagen que também patrocina a equipe.

A Débora que nunca tinha guiado um carro de corridas e já estreou de cara numa categoria tão disputada como a Truck, tem obtido classificações expressivas, já conseguiu mais de uma vez subir ao pódio e mostrou para todo mundo que o que ela queria mesmo na vida, era ser piloto de competição! Não está para brincadeira e no momento ocupa a 5ª colocação no campeonato sendo a melhor colocada de sua equipe. Tornou-se uma piloto profissional que leva sua carreira a sério, como todos os demais colegas de profissão, sem abandonar os afazeres do lar, coisa que aprendeu muito bem com a mãe, tanto que o marido Renato já ganhou uns quilinhos.

Continua a sua relação com a TV, apresentando o programa Siga Bem Caminhoneiro, todo domingo às 8,30 da manhã no SBT. A Débora é uma pessoa de fibra! No próximo dia 11, será realizada a 4ª etapa da Formula Truck, no Autódromo de Guaporé, com transmissão ao vivo pela Band. Vamos torcer. É isso ai. Até a próxima.