terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Mito Paulão Gomes




(matéria publicada no Jornal Super Auto em 23/02/07)

Republicada a pedidos


Olá moçada.
Depois que fiz o curso de pilotagem do Expedito Marazzi e obtive minha licença de piloto de competição, já no ano seguinte, em abril de 1978, no Autódromo Internacional de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, fiz minha estréia no automobilismo. O campeonato que existia na época chamava-se Torneio Rio São Paulo de Turismo, com as categorias, classe “A”, até 1 300 cilindradas, classe “B“, até 1 600, e classe ”C“, até 5 000cc. A classe ”A“ era dominada pelos Fiat 147; a ”B“ pelos Passat TS e a ”C“ pelos Opala 4 100. Foi nessa última que corri. Já disse em outra matéria, que o Zeca Giaffone e o Raul Boesel estrearam junto comigo, no mesmo dia e na mesma categoria.

O que não disse, é que eu estava no box, junto com meu grande mestre e companheiro de equipe, Luiz Pereira Bueno, o “peroba”, um dos maiores pilotos da história do automobilismo brasileiro, e, após o 1º treino, cansado por causa do calor, fui refrescar o rosto no banheiro que ficava nos fundos do box. Nisso ouvi alguém entrar, cumprimentar o Luizinho e perguntar quem era o “carinha que ia guiar o outro carro da equipe”. Quando ouvi o comentário pejorativo, (na verdade não foi carinha o que ele disse), voltei imediatamente para o box e dei de cara com um sujeito grandalhão, barbudo, mal encarado e de macacão de piloto. Ele que não sabia que eu estava ouvindo, ficou meio sem jeito e me cumprimentou, mal respondi, mas tremi por dentro.

Era o Paulão Gomes, o “rei da pista”. Claro que eu conhecia o Paulão, mas de longe, como aficionado, não como futuro “colega” de pista. O meu começo no automobilismo, foi muito difícil, nunca tinha andado de kart e também não tinha recursos para preparar um carro. Tentei estrear muitos anos antes, em 1970, mas não deu certo, e, um outro dia eu conto a história. Então, depois de 8 anos tentando participar e no fim conseguindo logo no primeiro dia, vem o Paulão me amedrontar! Mesmo assim fiz minha estréia, larguei em último dos 32 carros por não ter classificado e depois de 2 rodadas, ainda consegui chegar em 15º. Como tinha esperado muito para conseguir correr, queria fazer tudo de uma vez, para recuperar o tempo perdido.

Depois de 4 ou 5 corridas, inventei que queria correr fora do Brasil, que já estava pronto para correr no automobilismo internacional e fui atrás de realizar o meu sonho. Arrumei o patrocinador, os parceiros Guaraná e o Marinho Amaral, e a equipe francesa Team Gacchia, com Porsche 935, para disputar às 24 horas de Le Mans na França. Faltava “apenas” a carteira de piloto internacional. Aí é que foi o grande problema. Eu não sabia que para obter a licença internacional, precisava pelo menos ter disputado um campeonato brasileiro completo, obtendo 2 colocações entre os 6 primeiros colocados.

Eu que tinha feito apenas 5 corridas, logicamente que não poderia receber a licença. Fiquei muito frustrado, mas como já estava tudo acertado e não dava para voltar para trás, tinha que colocar alguém no meu lugar. Na mesma hora pensei num piloto que desse conta do recado, e que ao contrário de mim, já tivesse experiência internacional, pensei no “rei da pista”. Tinha que ser o Paulão! Entrei em contato com ele, contei o que tinha acontecido, ele não relutou, imediatamente aceitou e então fomos todos para a Europa. Resultado: o time brasileiro terminou a corrida em 7º lugar na geral e em 2º na categoria.

Foi um sucesso absoluto. Depois disso, ficamos grandes amigos, corri de Opala junto com ele e até hoje temos uma sincera amizade. Quando chamei o Paulão não foi à toa, ele já era um piloto consagrado. Já tinha guiado e vencido com todos os mais fortes carros de corridas, inclusive com o Ford GT 40, um potentíssimo protótipo V8. Já tinha corrido na Europa de Formula 3 e sempre foi um piloto muito respeitado. Continuou competindo e vencendo, ganhou 4 campeonatos de Stock Car.

Mas o interessante, é que depois de tantos anos, na verdade 27 anos, o Paulão continua com a mesma garra e perseverança. Foi o que eu vi na última edição das Mil Milhas. Fui para Interlagos, cobrir a prova para o jornal SuperAuto, e acabei ficando no box do Paulão. No primeiro treino com o Corvette, embora nunca tivesse guiado aquele carro, o Paulão ficou apenas a 0,7 décimos de segundo do piloto oficial da equipe, o holandês Mike Hezemans. O Mike é um piloto jovem, rápido, e muito experiente, além disso só em 2005 venceu 2 corridas do Campeonato de Fia GT, na China e na Itália, a bordo da mesma Corvette. No segundo dia de treino, o Paulão, embora não coubesse direito dentro do carro, por que o Mike é um piloto de baixa-estatura, ele já conseguia virar o mesmo tempo do Mike.

A surpresa da equipe foi tão grande, que pediram para o Paulão dar a largada em virtude de sua experiência e conhecimento da pista. Não deu outra. O Paulão guiou como nunca, ultrapassou o Aston Martin vencedor da prova, e o protótipo ZF que tinha feito a pole position. Foi mais de uma hora, de pura alegria e satisfação, admirando o Paulão disputar metro a metro com os outros carros mais potentes e brilhantemente vencer a disputa. Só foi para o box, para a troca de piloto, quando já estava na 1ª posição. A Corvette ficou em 1º até a metade da prova, e só perdeu a posição quando apresentou um defeito. Fez a 2ª melhor volta da prova.

Se o carro não desse pane, o Paulão teria vencido a corrida pela segunda vez. Foi assim com GT 40, BMW, Mercedes DTM, Porsche, Corvette, Maserati, Maverick V8, Opala 4100, Fórmula 3, Super Vê, Stock Car, enfim, com qualquer carro de corrida, o Paulão sempre deixou a sua marca. Tanto é verdade, que foi convidado pelo Mike para disputar junto com ele o Campeonato Mundial de FIA GT de 2006! O Paulo Gomes é um verdadeiro mito! É isso aí. Até a próxima.

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